sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Um reles traço...

por Ricardo Gnecco Falco
De:   Ana Carolina <carolzinha@rothymail.com>
Para: Lista Formandos <formandos2009@inhauugrupos.com.br>
Cc:   Bruno <bruno.salles@rothymail.com>
Cco: Rotozão <rogerio.sena@vmail.com >

Assunto: Contagem Regressiva!!!


Oieee...
Td bem galera?!  Faltam menos de dois meses para a nossa formatura!!!
UH-HUUUUULLLL!!!!!!!!!

Gente...
Como todo mundo sabe, eu me caso daqui a dois dias. Todos vcs já receberam o convite e, pela lista de confirmação que vi ontem, a grande maioria estará lá!!!
Estou muito feliz... Minha vida está parecendo um conto de fadas! Parece mais um sonho do que realidade... Estou vivendo o melhor momento de minha vida... Realizando o maior desejo que qualquer pessoa pode ter... Estou amando, e sendo amada!
Mas sei também que, quando alguém está tão feliz como eu estou, acaba provocando certos sentimentos em algumas pessoas que, inexplicavelmente, passam a querer destruir, a todo custo, a felicidade de quem nunca fez nada de mal para elas.
Fui na facul na terça e, como tinha o primeiro tempo vago, decidi passar na biblioteca para checar alguns e-mails e resolver algumas pendências típicas de quem está prestes a se casar... E qual não foi minha surpresa ao abrir minha caixa de msgs e me deparar com aquilo?!?
Sei que vcs já sabem do que se trata, pois a mesma coragem que a pessoa não teve para se identificar, teve em ousadia para enviar o e-mail para (toda!) a nossa lista de formandos, criada para servir de ferramenta facilitadora para os arranjos e decisões a serem tomadas de comum acordo, em prol de nossa festa de formatura.
Foi um ato covarde. Covarde, cruel e infrutífero, pois é tudo mentira! E tenho certeza -- cer-te-za! -- que nenhum de vcs, até mesmo os que não tenho muito contato ou muitas afinidades, acreditou em sequer uma linha daquela mensagem!
Todos vcs sabem que eu nunca -- nunca! -- fiquei com o Rogério e, na última festa de arrecadação citada no e-mail, naquele sítio lá em Vargem Grande, eu saí logo no início, pois estava passando muito mal. Jamais poderia “ter sido vista dentro da picape dele, no estacionamento”, depois do show da banda, que só foi terminar de madrugada (!), como fiquei sabendo depois.
No aniversário da Amanda, naquela boate na barra, eu sequer esbarrei com ele! Fiquei o tempo todo na mesa com o Bruno e, quando ele foi embora (pois ele acordava cedo no dia seguinte; e não por termos brigado por eu ter bebido demais, como insinua o e-mail), eu só fiquei mais um pouco para não chatear a Amanda e voltei de táxi para casa, e não de carona com o Rogério (que nem sequer vi na festa!!!).
E todas; todas as demais insinuações e infundadas “provas” contra mim que o anônimo “delator da verdade” (como se auto-intitulou) escreveu, não passam de uma invejosa e frustrada tentativa de acabar com a alegria que, certamente, este desprezível ser jamais experimentou em sua deprimente vida.
De minha parte, esta pessoa é digna única e exclusivamente de pena; um sentimento que consegue ser ainda pior do que a inveja que claramente domina o coração e escraviza a mente desta infeliz alma “delatora da verdade”.
Por isso mesmo, não vou deixar que esta infeliz criatura estrague o mágico momento que estou vivendo e, ao invés de me abater, venho aqui reforçar o convite e dizer que espero encontrar todos vocês lá na igreja, quando finalmente entrarei para o time das (bem!) casadas!! Né, mozi?! (rs!)
E, depois da cerimônia, quero ver todo mundo lá no clube para nos acabarmos de vez na festa!!!
UH-HUUUUULLLL!!!!!!!!!
Nos vemos no sábado!!!
Beijinhos,
Carol.
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. . .

Este foi o e-mail que Carol mandou para todos.

Todos que receberam a tal difamatória mensagem... O anônimo e covarde e-mail que foi intencionalmente copiado para todos seus colegas formandos e, também, para seu noivo.

O Bruno.

Agiu precipitadamente, sem dúvida. A demasiada preocupação em desmentir o que fora escrito na tal mensagem anônima certamente acabou por complicar ainda mais a situação de Carol. Pois, como se diz num famoso provérbio, quem não tem nada a dever é exatamente quem não tem nada a temer.

E Carol temeu...

Tudo bem que ela estava nas vésperas de seu casamento com Bruno e, talvez exatamente por isso, não podia dar-se ao luxo de permitir que mal-entendidos continuassem mal entendidos. Ela tinha mesmo que explicar tudo. Para os colegas e, principalmente, para seu noivo...

O Bruno.

Porém ─ e em toda história que se preze sempre existe um porém ─, o que Carol não sabia é que Bruno nem havia lido o e-mail original. Na verdade, ele não se interessava pelas trivialidades da internet já fazia bem umas duas semanas. Só tinha olhos para a noiva; já quase esposa. E só ficara sabendo da existência do dito cujo exatamente na véspera do casamento, ao encontrar uma mensagem da amada em sua menosprezada caixa de entrada. Pensara até tratar-se de algo sobre o casamento, tão próximo e já latente. Ainda mais com aquele título...

Contagem regressiva!!!

Mas, não... Era o e-mail de resposta que Carol, precipitadamente, enviara a todos da lista. Todos os que, supostamente, teriam recebido a tal difamatória mensagem; o e-mail anônimo e covarde que julgara ter sido direcionado para todos seus colegas formandos e, em cópia, também para seu noivo. O Bruno. No entanto, o fato é que...

Apenas Carol recebera aquele primeiro e-mail.

Até hoje não se sabe se o inominado autor confundiu-se ao preencher o cabeçalho da mensagem, ou se, descartando-se a opção de que tudo tenha sido proposital, aconteceu realmente algum tipo de falha no envio da mesma, fazendo com que, despercebida e ironicamente, apenas a própria vítima recebesse aquele revelador e incômodo e-mail.

Na verdade, todos os demais endereços eletrônicos inseridos naquela amarga mensagem tinham um simples, porém importantíssimo, detalhe... Um imperceptível “_underline”, colocado antes do início dos nomes dos destinatários, diferenciando-os assim dos endereços de e-mail verdadeiros.

Um reles traço...

Linha baixa; sorrateira trilha. Exatas incertezas transbordantes de um suposto rio... O infinito devaneio de um inconsciente coletivo. Automáticas conseqüências de um inesperado enlaço.

Se Carol tivesse conseguido vencer seu vício diário de acessar a internet e, principalmente, o impulso de reagir imediatamente àquela fatídica mensagem, ou sabe-se lá por qual outro motivo, nada do que acabou acontecendo na vida desta atormentada jovem teria acontecido. Ou melhor...

Não acontecido.

Tudo em decorrência daquele instintivo ato, de imprevistas implicações... Impensado traço, de irrefletidas seqüelas... Pois só o que se sabe até hoje é que rolou um ti-ti-ti e tanto no dia seguinte, na aula. E outro maior ainda quando o casamento foi adiado.

Sem data marcada...
 
* * *