terça-feira, 21 de abril de 2009

A Frase

por Ricardo Gnecco Falco

Ela tem ciúmes até de você!


Na época em que Duda disse esta frase, Bruna — hoje sua namorada — era apenas uma amiga. E foi com esta sentença que, sem saber, Duda alterou radicalmente a vida de Bruna.


E também o rumo de suas histórias...


Naqueles tempos, tinham lá seus respectivos relacionamentos amorosos. Duda com Marly, a garota mais sexy e desejada de todo o curso de psicologia; e Bruna tinha um caso com Augusto, professor do segundo período da faculdade, onde conheceu Duda.
Na verdade, Duda e Bruna viram-se pela primeira vez no trote e, quem diria, estariam lado a lado também na foto de formatura, trocando muito mais do que sorrisos e olhares cúmplices. Já tinham até combinado isso...
Mas, voltando no tempo novamente...


Duda e sua então namorada, Marly, não tinham o menor pudor em demonstrar, em toda sua voluptuosidade, o quanto se gostavam. E, para delírio de todos os rapazes do turno da noite, era comum ver o casal entrelaçado durante os intervalos das aulas; no pátio, lanchonete, estacionamento...


E se pegavam mesmo!


Com todo o entusiasmo e dinâmica que a fogosa juventude costuma gratuitamente oferecer como espetáculo, Duda e Marly formavam o casal mais conhecido – e comentado! – daquela conservadora instituição de ensino. Colírio e delírio para toda a rapaziada do curso.


Contudo, numa das incontáveis festas da faculdade das quais participaram, isso já no terceiro período, Duda revelou para a então amiga Bruna que, sua estonteante e desejada namorada, além de beleza, tinha de sobra também...
Ciúmes.


Pura, e nunca simplesmente, ciúme. Ciúme imensurável, incontrolável. E isso, como Bruna pôde perceber naquele desabafo, tirava Duda realmente do sério. A amiga podia ver em seus olhos a raiva que certas atitudes de Marly lhe faziam sentir.


O pior é que, na cabeça de qualquer um, deveria ser Duda a sentir ciúme de sua cobiçada namorada, pois até mesmo os professores da faculdade — e aqui se encaixava também Augusto, o tal caso de Bruna — perdiam o controle sobre o olhar e as palavras ao verem Marly passar.


Às vezes até o controle sobre a saliva...


Mas, isso Bruna sabia reconhecer também... Marly era mesmo maravilhosa. Linda. Toda completa. Se fosse um carro, seria uma Ferrari; vermelha. Com todos os opcionais.


No entanto, nada mais deprimente do que ver um bando de marmanjos, a maioria casada e com filhos, ou filhas, babando na porta da sala dos professores quando Marly passava...


Em contrapartida, se havia alguém mais seguro, maduro e bem resolvido do que Duda ali naquela faculdade, Bruna não tinha ainda conhecido ou ouvido falar. Duda detinha todas estas qualidades e ainda muitas outras... Formava um conjunto de atributos que, em sua totalidade, causavam imensa admiração por parte de sua, ainda então, amiga.


Ter conhecido Duda foi, sem sombra de dúvida, uma das melhores coisas que haviam acontecido para Bruna naquele período importante e confuso de transição para a vida realmente adulta...


Era com Duda que Bruna se abria e sempre ficava impressionada com a sabedoria e sensibilidade contidas nos conselhos que recebia em troca.


Sempre em troca...


Mas então veio a frase. A tal frase que mudou tudo. A frase que pegou Bruna de surpresa; que a acertou em cheio como uma bolada na testa. Marly tinha ciúmes dela...
Ela; Bruna!


Não que se achasse feia; estava longe disso. Mas saber que a musa da faculdade, a deusa suprema, o ícone máximo da luxúria, sentia ciúmes dela... Nossa! Isso era mais do que um banho de ofurô em seu ego.
Foi estranho...


Aquilo mexeu de verdade com Bruna. Fato que uma semana após aquela revelação, Bruna e Duda trocaram o primeiro beijo. Proibido, secreto, curioso... Exatamente como um beijo deve ser.


E o incidente despertou dentro de Bruna sentimentos e desejos que nunca sequer cogitou existirem. Estava transtornada. Irreconhecível. Não conseguia mais parar. Queria sempre mais e mais e não compreendia a fonte de tudo aquilo...


Bruna estava verdadeiramente apaixonada.


Irradiando alegria, terminou com apenas duas palavras o complicado relacionamento que mantinha há tempos com o inconformado professor, tornando então público todo aquele novo e indescritível sentimento que surpreendentemente apoderara-se dela e a fizera sentir-se, finalmente, completa.

Completamente feliz.

A parte mais difícil para Bruna foi, sem sombra de dúvida, após quatro anos de intenso aprendizado, apresentar o motivo de toda aquela plenitude aos seus pais, que vieram do interior de Minas especialmente para a formatura da filha e, finalmente, conhecerem Maria Eduarda...


Seu grande amor.

* * *


6 comentários:

  1. Amigo, que bacana ler um conto seu.
    Quero ler mts outros. Parabéns pelo talento e pela publicação.
    Bjs, Erica Muniz.

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  2. Valeu Erikinha! ;O)
    Obrigado pelas palavras e por ter lido!
    Grande abraço!
    Paz e Bem!

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  3. Este conto foi publicado na antologia "Contos de Outono", edição 2009 da CBJE.

    Abaixo, segue link do conto na página da editora:

    http://www.camarabrasileira.com/contout09-012.htm

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  4. Nossa, isso me é tão familiar..rs!
    Gostei muito, parabéns...

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  5. Olá ALOHA! ;O)
    Seja muito bem-vinda ao blog!
    Fiquei feliz em saber que leu o conto e que gostou!
    Volte sempre!

    Abr@x!

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